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Estadão – Ano de 2020 teve salto no número de mortes, e não ‘evolução natural’ em relação a períodos anteriores
11 DE MAIO DE 2021


Uma corrente no WhatsApp tira de contexto dados sobre a pandemia de covid-19 e faz cálculos e comparações equivocadas para criticar medidas de distanciamento social. O texto que circula nas redes sociais argumenta que o número de mortes registrado em 2020 teve uma “evolução natural”, seguindo tendência de períodos anteriores. Isso não é verdade, de acordo com dados e especialistas consultados pelo Estadão Verifica. O primeiro ano de pandemia no País, na realidade, teve salto de 31% no número de óbitos, em relação à média de anos anteriores.

Além disso, a corrente ignora os principais fatores de risco do coronavírus, com o objetivo de diminuir sua gravidade. Também faz uma comparação sem embasamento do aumento no número de óbitos antes e durante a pandemia. Leitores solicitaram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp do Estadão Verifica11 97683-7490.

Números de mortes em anos anteriores

A corrente de WhatsApp engana ao dizer que “temos uma evolução natural no índice de óbitos no nosso País”. Pelo contrário, os dados preliminares do Ministério da Saúde e dos registros de óbitos em cartórios mostram um salto expressivo em 2020 com relação ao ano anterior.

Para fazer a alegação enganosa, a corrente apresenta um outro dado de forma incorreta: a taxa bruta de mortalidade. Ela é a relação entre a quantidade de óbitos num determinado período e a população total.

No Brasil, essa taxa apresenta tendência de alta nos últimos anos em virtude da mudança do perfil demográfico, explica Marcio Mitsuo, demógrafo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O fato de ocorrer um aumento ao longo dos anos é esperado, visto que a cada ano há um constante crescimento da parcela mais idosa da população, bem como a diminuição da quantidade de jovens”, diz.

Mas, ao contrário do que afirma a corrente de WhatsApp, os dados de mortes no País de acordo com as declarações de óbitos, do Ministério da Saúde, e das certidões de óbitos levantadas pelo IBGE mostram que houve uma queda na taxa bruta de mortalidade (TBM) entre 2016 e 2018, índice que voltou a subir em 2019. Confira os dados abaixo (informações de 2020 são preliminares):

“O ano de 2020 aparece com um salto bastante considerável, mesmo levando em conta que as fontes de informações ainda trazem dados preliminares e que podem apresentar um ligeiro aumento até a sua consolidação, particularmente no caso do Registro Civil”, avalia Mitsuo. Enquanto o maior aumento de um ano para outro no período analisado havia sido no biênio 2015-2016 (alta de 0,17 ponto percentual na taxa de mortalidade), dados preliminares apontam para crescimento de 0,81 ponto percentual no biênio 2019-2020.

Até 2019, os números de óbitos apresentados na corrente estão bem abaixo do divulgado pelo IBGE e pelo Ministério da Saúde. Os dados citados são próximos, porém, dos registros de óbitos disponíveis no Portal da Transparência da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). Por meio de nota, a Arpen informou que os registros referentes aos anos até 2018 ainda passam por atualização, por isso ainda não estão completos.

A Arpen já havia divulgado anteriormente que o período de março de 2020 a fevereiro de 2021, período que abrange o primeiro ano de pandemia, teve 355.455 falecimentos a mais do que a média do mesmo período desde 2003.

“Em termos percentuais, significa um crescimento de 31% de óbitos em relação à média histórica, que sempre esteve na casa de 1,7%, totalizando 29,3 pontos percentuais a mais no período”, diz a nota da Arpen. “Na comparação em relação ao exato ano anterior da pandemia, março de 2019 a fevereiro de 2020, o aumento foi de 13,7% no número de falecimentos”.

Número de infectados

Num segundo trecho, o texto que circula no WhatsApp divide o suposto número de mortos pela quantidade de dias desde o começo da pandemia. Em seguida, divide esse dado pelo número de Estados, chegando a 35 óbitos por dia por unidade da federação. Com isso, diz ser “uma vergonha imperdoável” adotar medidas de restrição das atividades econômicas “e deixar de cuidar COM QUALIDADE de apenas 35 pessoas por dia para cada estado da federação”.

O que a corrente faz na prática é substituir o número de infectados pelo número de óbitos — quer dizer, as unidades de saúde não cuidaram apenas das pessoas que morreram, mas também dos pacientes que contraíram a covid-19 mas se recuperaram. Assim, o texto no WhatsApp ignora os 15,1 milhões de infectados pelo coronavírus pelo País, utilizando em vez disso os 422.340 mortos (número 35,9 vezes menor). Importante ressaltar que é irreal fazer este cálculo, tendo em vista que cada pessoa internada não fica apenas um dia sob cuidados hospitalares.

O que esse argumento desconsidera é que o vírus é altamente transmissível e pode contaminar mais pessoas do que os sistemas de saúde são capazes de tratar. Por isso, é fundamental que a população adote a higienização das mãos, o uso de máscaras e o distanciamento social. Com essas medidas simples, a cadeia de transmissão do vírus é cortada e menos pessoas chegam aos hospitais ao mesmo tempo. Assim, as equipes médicas conseguem atender de forma melhor cada paciente e as chances de sobreviver aumentam.

A qualidade da assistência à saúde é menor em sistemas colapsados e com profissionais esgotados mentalmente e fisicamente, lembra Guilherme Spaziani, infectologista do Instituto Emílio Ribas. “Isso foi claramente demonstrado no Brasil quando vimos um aumento no índice de óbitos na segunda onda em comparação com a primeira. O mais racional seria observar o contrário, uma vez que já tivemos todo o aprendizado e aprimoramento de tratamento ao longo de 2020.”

Letalidade da doença

A corrente lista uma série de medidas de isolamento social como a redução das atividades comerciais e multas para empresas que descumprirem determinações de governadores. Em seguida, questiona se faria sentido adotar essas medidas “para proteger as pessoas de um vírus que é fatal para 0,17% da população”.

Esse número apresentado pela corrente é a taxa de mortalidade. Ele representa a porcentagem de mortes pela pandemia com relação ao total de habitantes do País, o que, considerando-se os dados usados pela corrente, daria 0,17%. Na prática, a taxa de mortalidade serve para mostrar quantas pessoas de uma população morreram pela doença.

Outro índice utilizado pelos epidemiologistas é a taxa de letalidade, calculada dividindo-se o número de mortes pelo total de pessoas infectadas. Esta sim mostra a gravidade de uma doença. Considerando os dados atualizados desta segunda-feira, 10, o Brasil acumulava 15.184.790 casos confirmados e 422.340 óbitos, com taxa de letalidade de 2,8%. Isso quer dizer que a cada cem pessoas que contraíram covid-19 no País, quase três morreram.

Sendo assim, num cenário hipotético em que nenhuma medida de combate ao vírus fosse adotada e no qual toda a população fosse contaminada, teríamos ao final da pandemia um total de 5,9 milhões de mortos.

A alegação de que a covid-19 seja “fatal para 0,17% da população” ainda é enganosa por outro motivo. Sabemos que as pessoas com maior risco de evoluir para o quadro grave da doença são os idosos e as pessoas com comorbidades como diabetes, pressão alta, doenças cardiovasculares, obesidade, síndrome de Down e outras doenças crônicas. Estes seriam 52,5 milhões de brasileiros, cerca de 24,8% da população, segundo o último Plano de Operacionalização da Vacinação, de abril de 2021, do Ministério da Saúde.

Ou seja, o coronavírus impõe sérios riscos para ao menos 24,8% da população, número 145 vezes maior do que o citado pela corrente de WhatsApp.

O texto viral ignora que a atenção demandada pelo coronavírus levou muitos tratamentos a serem interrompidos e cirurgias adiadas, além de diminuir a realização de exames preventivos. Tudo isso foi responsável pelo aumento no número de mortes que não tinham relação com a pandemia, ressalta Spaziani.

“Tivemos doentes crônicos que tiveram seus tratamentos atrasados e isso complicou ainda mais a patologia. Por exemplo, pacientes com câncer que tiveram algum atraso na quimioterapia e a doença pode ter avançado de maneira que a cura não é mais possível”, diz o infectologista.

Dados imprecisos

A corrente traz dados confusos e imprecisos. Por exemplo, ela afirma que o Brasil possui 374.532 mortes e 13.493.317 casos confirmados de covid-19. Consulta no painel do Ministério da Saúde mostra que o número de mortes mais próximo a este valor é de 19 de abril, com 374.682. Já o registro de casos confirmados mais semelhante é de 11 de abril, com 13.482.023. Ambos os números já estão desatualizados.

No entanto, a corrente também afirma ter decorrido 400 dias do começo da pandemia. Considerando-se que o primeiro caso de infecção de um brasileiro foi confirmado em 26 de fevereiro de 2020, o 400º dia de pandemia seria o dia 1º de abril de 2021.

Outro número impreciso utilizado é o da população brasileira. A corrente fala em 209,5 milhões de habitantes. No entanto, em 2020, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou que a população era de 211.755.692.

Estadão Verifica fez esta checagem baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis em 10 de maio de 2021.

Fonte: Estadão

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